Todos os anos assistimos as mesmas cenas: milhares de jovens prestando o tão temível VESTIBULAR. Buscando a realização dos seus sonhos traçados durante anos de "experiência". Experiência essa adquirida através de uma série de conceituados estudos: Plantão Médico; Globo Repórter; Malhação...Ou então, através de trocas de idéias com pessoas qualificadíssimas para tal: a galera do colegial, que resolveu "geral" fazer faculdade de Educação Física, para assim permanecerem juntos. Ah! Estava esquecendo dos famosos testes vocacionais, onde se responde a uma série de perguntas e alguém, normalmente o psicólogo ou o escritor do manual, dá a sentença: "Você se identifica com a área de humanas". Humanas? Bem, vejamos: direito, psicologia ou quem sabe, biblioteconomia? Difícil, não é mesmo? A tudo isso se acrescenta o sonho do pai que adoraria que o filho fizesse uma faculdade, já que ele mesmo não o conseguiu.
Vamos acompanhar o processo de decisão de uma jovem:
"Medicina: eu sempre quis ser médica, poderia salvar vidas e, além disso, é tão linda aquela roupa toda branca... Seis anos mais a especialização, período integral. Acho que não vai dar. Fisioterapia: É isso, como eu não pensei antes? Parece com medicina, trabalha no hospital também e veste branco, tá decidido: Fisio é o que há!".
É exatamente assim, ou algo bem parecido a isso, o que acontece com os jovens, quase obrigados a decidir aos 18/19 anos o seu destino profissional. Onde está escrito que um jovem deve, tão prematuramente tomar tamanha decisão? No mesmo lugar que diz, ainda hoje, que as mulheres podem até trabalhar, mas ainda são as responsáveis pela ordem do lar. Nas regras invisíveis da sociedade, porém muito presentes em nossas vidas. Com isso, nossos jovens são obrigados a idealizar sem base em fatos concretos. Não se trabalha, não se vive, passa-se da realidade de freqüentar uma escola de ensino médio para a de freqüentar uma faculdade, como se isso fosse só uma mudança de carteira.
Hoje em dia o mercado profissional, valoriza cada vez mais a idade como um fator decisivo. Assim sendo, pressionam-se os jovens a investirem cada vez mais cedo na profissão que desejam seguir e quase sempre o passo inicial para isso é a escolha do curso de graduação. Exige-se que os jovens cresçam mais rápido e contraditoriamente a isso oferecemos a eles um mundo virtual, onde eles aprendem a se relacionar sem precisar olhar para as pessoas. Os isolamos em uma concha, um condomínio fechado, afinal, precisamos proteger nossos filhos. Que tal se os ensinássemos a se protegerem sozinhos? Se os apresentássemos à realidade, indicando os rumos possíveis para suas vidas, dando-lhes assim possibilidade de decidirem o rumo a seguir. Tudo bem que a TV vem desempenhando com méritos o papel de apresentá-los às barbaridades desse mundo atual, porém isso torna tudo um pouco irreal, quase um filme. E ainda privamo-os de conhecerem a verdadeira beleza da vida, o lírio que cresce no lodo, os bons exemplos vindos da feia realidade das periferias, que muitas vezes poderiam servir de incentivo para suas vidas, bem como os maus exemplos que devem servir de advertência.
E ainda assim queremos que, após uma vida inteira decidindo por eles, eles sejam capazes de escolher entre infinitas possibilidades, uma, apenas uma profissão e que esta, preferencialmente, coincida com os sonhos que fizemos para eles. Não quero com isso pôr a culpa inteira sobre os pais, mas creio que a atual sociedade age impulsionada pelo medo e pela culpa devido à ausência na criação dos filhos. Esta é a mesma sociedade que evoluiu através dos tempos, porém esqueceu de seu passado. Cometemos os mesmos erros por motivos e de maneiras diferentes. A criação repressora nos tempos passados gerou uma sociedade apática, sem garra para questionar o mundo em que vivem e tão pouco para tentar mudá-lo. E a liberdade aliada ao excesso de proteção dos dias de hoje, fatalmente terão como fruto uma geração alheia à realidade e conseqüentemente, despreparada para enfrentá-la.
Nossos jovens devem ter o direito de sofrer, errar, revoltarem-se e principalmente, saber o que fazer com tais sentimentos. O vestibular é para eles o primeiro contato com o mundo adulto. Não deveria. Uma decisão como esta deveria, muitas vezes ser adiada e também porque eles já deviam estar habituados a assumir responsabilidades e a enxergar a vida através de suas próprias concepções. Devíamos dar a eles o direito de recorrerem às suas próprias experiências ou até mesmo experiências alheias, para decidirem, entre outras coisas, o curso de graduação a fazer.
Pensemos nisto, nem que seja para discordar, afinal todos têm o direito de construir sua própria opinião; e esta é apenas a minha.
"O único modo de evitar os erros é adquirindo experiência; mas a única maneira de adquirir experiência é cometendo erros". (Autor desconhecido)
(Artigo da Suzan da Silva L. de Sá é Técnica de Laboratório da UNESP Sorocaba).
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